2024 pode ser resumido em uma única palavra.
6 letras, proparoxítona aparente (ou paroxítona formada por ditongo crescente pós-tônico, a depender do gramático) e também chamada de “demônio do meio-dia”.
Os religiosos já sabem qual é, os ansiosos vão rolar o texto até o fim para descobrir mais rápido e os centrados podem simplesmente acompanhar o texto para descobrir.
Quando eu comecei no digital, em 2019, acreditávamos que ficaríamos milionários em questão de meses, que as oportunidades eram muitas e os profissionais eram poucos, e que todos os outros cidadãos eram tolos de seguir com seus trabalhos celetizados.
Éramos ingênuos e emocionados, sem dúvidas, mas por acreditarmos que poderíamos alcançar as estrelas, nunca acabávamos com um punhado de lama nas mãos.
Esse ambiente acima de tudo otimista persistiu até o fim da pandemia, pelo menos. Havia pouca estrutura, pouca burocracia, pouco profissionalismo, mas MUITA vontade.
E olha, até me arrisco a dizer que fazíamos mais, justamente porque acreditávamos mais.
Porém, não é mais assim, né?
A coragem, o otimismo e a vontade que tínhamos em 2019 foram substituídos pela timidez, pela apatia e pela procrastinação aleatória em 2024.
Estamos numa crise de desejo.
Não acreditamos mais nas promessas dos líderes do digital, não vemos mais postos para ocupar nem oportunidades para aproveitar, não vemos mais saída da mediocridade e por isso só sobrou o medo.
Estou tirando isso da minha cabeça? Não. Estou tirando das mais de 20 consultorias de direcionamento profissional que fiz entre outubro e dezembro de 2024.
Sabe o que todas as pessoas que eu ouvi tinham? Medo.
Elas eram burras? Não.
Elas eram medíocres? Não.
Elas eram incapazes? Não.
Na verdade, muito pelo contrário, eram pessoas distintas, acima da média, inteligentes, conscientes até demais sobre os próprios defeitos e virtudes, preocupadas demais com a própria entrega e com a qualidade do seu trabalho.
Ou seja, elas não eram, em nenhuma medida, diferentes de você que está lendo este texto agora mesmo - eu conheço meu público.
Elas só precisavam de um novo modelo, ou de um novo jeito de desejar, ou até de um novo desejo.
Uma das associadas precisava apenas ouvir de alguém imparcial que ela realmente tinha talento, e que tinha talento para textos longos que acompanhassem a sua curiosidade - e que tinha que parar de se render aos desejos impostos pelos outros de que “você precisa postar no Instagram”.
Outra associada precisava apenas de ajuda para recolher e interpretar suas experiências para descobrir que ela não queria “ser copywriter”, mas que queria usar copywriting para criar novos ambientes (tínhamos uma empreendedora enrustida aqui).
Outra associada só precisava se dar a chance de testar algo até o fim por pelo menos 3 meses antes de ir para a próxima tentativa, em vez de cair nas promessas sempre oportunistas de gente mais interessada no dinheiro dela do que nela.
Ajudar essas pessoas (e outras tantas) foi um dos trabalhos que mais me realizou em 2024.
Eu me senti como um apanhador no campo de centeio, salvando talentos que vagavam na beira do precipício.
Mas, voltando à crise de desejo, eu acho que a maioria de nós não precisa de novos cursos, de novas inteligências artificiais, ou de novas metas para 2025…
Eu acho que precisamos de novos líderes.
Precisamos de novas pessoas que nos inspirem a ser melhor, que nos inspirem a desejar melhor, que nos inspirem a olhar de volta para as estrelas (de onde nunca deveríamos ter tirado os olhos).
Em 2024, muita gente desistiu.
Os líderes desistiram de liderar, desistiram da sua responsabilidade enquanto modelos, desistiram dos seus produtos e até da sua dignidade em favor de fazer mais e mais dinheiro.
E as pessoas desistiram dos seus líderes, desistiram dos seus sonhos mais ingênuos, desistiram do seu futuro e por isso desistiram do presente, desistiram de se tornar o que nasceram para ser, desistiram de si mesmas.
Eu não quero que levemos para 2025 a apatia de 2024. Não quero que essa persistente preguiça espiritual adormeça sua consciência e arrefeça suas ações. Não quero que você viva num tédio existencial incurável. Enfim, não quero que você desista de tudo o que vale a pena.
É por isso que, para mim, a palavra de 2024 é:
Acídia.
Para mim, esse é o fundo do poço. E é por isso que prometo que vou dar meu máximo para que a palavra que resume 2025 não chegue nem perto desse pecado capital.
Convido você a começar do zero de novo, a esquecer esse ano torpe de 2024 e experimentar 2025 como uma nova e gratuita chance de fazer dar certo para você e do seu jeito.
Para combater essa palavra nojenta de 2024, precisamos de uma nova. Uma palavra que guie nosso novo ano para onde realmente queremos ir.
Cada um vai ter uma, e eu insisto que você coloque a sua nos comentários, e aqui vai a minha:
Dedicação.
Caos. Brincadeira. Mas eu amo essa palavra.
Seu texto ficou muito bom, é aquele tipo de texto que eu leio duas vezes e nas duas sinto a a esperança de que algo melhor pode vir. Ter conhecido você, tem uns 2 anos, foi uma das maiores surpresas e graças que tive, obrigado pelo carinho e por todo o crescimento Luis. Obrigado por se dedicar em seus talentos.
Pra mim, a minha palavra da vez será direção.
Coragem.