Eu comecei a ouvir tudo o que encontro do Neil Postman, e está sendo revigorante.
Caso não saiba, Postman foi um grande crítico das mídias modernas (TV e Internet, principalmente), e escreveu livros - que eu ainda estou para ler - sobre o impacto, quase sempre negativo, da tecnologia na cultura humana.
Talvez o livro mais famoso dele seja “Amusing Ourselves to Death” (a tradução seria algo como “Distraindo-nos até a Morte”), e esse título já nos dá uma boa ideia da intensidade das suas convicções.
Bom, eu ainda vou falar bastante sobre mídias, principalmente porque o desejo de criar uma Aula Magna para Social Medias só aumenta (acho que é a profissão mais difícil do digital, e nunca conheci um que soubesse o que é mídia), mas também porque como nosso consumo de mídia só aumenta, vai ser impossível ser ALGUÉM se você se deixar contaminar.
Resgato o clímax do meu texto “Em defesa do Instagram”:
“A verdadeira chave para saber se você tem uma relação saudável com a mídia é se perguntar:
Sou eu que estou usando a mídia ou é a mídia que está me usando?”
E pensando em toda essa coisa de mídia, e procurando meios de entender e explicar melhor como tudo isso funciona, encontrei uma analogia, que talvez já tenha sido descoberta muito antes, mas que pode ser muito boa, útil, talvez até terapêutica:
E se (mídia) fosse uma pessoa?
Eu talvez explore mais esse tema em próximas Newsletters, mas veja como a coisa fica concreta se passamos a ver a mídia como alguém, e não como algo.
Seria uma mulher, obviamente, e uma mulher bem insegura - apesar de sua imagem poderosa e bem pensada -, que tomaria cuidado para que cada ação sua causasse o máximo de inveja (talvez ela até transformasse isso numa métrica: “volume de inveja por ação”).
Ela poderia passaria o dia conversando com você sobre todas as coisas supérfluas (mas urgentes) que fez, faz, fará e faria. E, não só isso, mas também falaria sobre todas as coisas supérfluas que outras pessoas supérfluas fizeram, fazem, farão e fariam.
Ela te mostraria vídeos de até 90 segundos (sempre até 90 segundos) sobre amenidades e perguntaria: quer ver mais disso? Se você dissesse não, ela mostraria do mesmo jeito.
Seu repertório seria amplo. Ela saberia como funcionam buracos negros e também como fazer um almoço para 50 pessoas com apenas 20 reais, mas tudo pareceria um eterno small talk. Mesmo que conversassem a tarde toda, nada significativo seria aprendido.
Ela te apresentaria a pessoas melhores e mais bem-sucedidas do que você, e diria para você ficar de olho nelas o tempo todo, só para garantir que você não vai perder nada. Mais do que isso, diria que sua vida vale mais a pena precisamente se você desejar ser como elas.
Ela também te daria a oportunidade de falar, de vez em quando, mas só se fosse do jeito que ela gosta: frases curtas e impactantes, que causem uma impressão forte, chamem a atenção e recompensem a sede por significado nos outros ouvintes.
Quando ela fosse embora, você se sentiria como que de ressaca, como se um tsunami tivesse passado por cima e por dentro de você, mas ela era tão viva, tão plena, tão impressionante, que você ficaria viciado em sua presença, e a chamaria de volta pra festa, no dia seguinte ou o mais rápido possível, só para ela voltar a te distrair do seu tédio existencial.
Bem, se eu continuasse, eu começaria a ir para um lado meio dark*, então é melhor parar por aqui.
E agora eu penso (e você também deve pensar): eu manteria essa pessoa por perto?**
*Eu tentei encontrar imagens para “como seria a personificação do Instagram”. Encontrei várias imagens de mulheres infantilizadas, mas com esse ar de poder e estilo. Não era o tipo de imagem que eu buscava: narcisista, vazia e ressentida.
** Se até a Madonna disse que o “Instagram foi feito para as pessoas se sentirem mal”, que argumentos lhe restam?